
A reprodução dessa icônica e importante imagem, é perfeita para abordar o assunto de hoje. Para quem não conhece, o cartaz do "We Can Do It" originalmente foi usado para incentivar as mulheres americanas a serem operárias durante a Segunda Guerra Mundial. A intenção era chamar a atenção das mulheres e atraí-las ao trabalho nas fábricas, já que os homens estavam lutando na guerra. Anos mais tarde, com o fortalecimento do movimento feminista, a ilustração voltou com tudo e foi reutilizada para mostrar o empoderamento feminino.
Hoje a história da Cosmociência está sendo revolucionada mais uma vez, a propulsora dessa nova fase é nossa nova It Girl do setor de produção. Herlane Pires, tem 21 anos, é estudante de Administração na universidade Estácio de Sá e Auxiliar de Produção na Cosmociência. Nosso departamento de marketing fez uma entrevista com ela para saber como está sendo essa nova fase de sua vida. Conversamos também com seu supervisor para saber sobre o seu desempenho. Vamos conferir:
O que você está achando da empresa até agora, de exercer a função que você se encontra, como está sendo essa experiência?
Herlane: A empresa é praticamente uma mãe, né? O trabalho não é fácil, nem um pouco. Mas de alguma forma é confortável. Não sei se dá pra entender, é um trabalho difícil mas não é aquela coisa pesada que você levanta de manhã e pensa: “Ah! Que saco, vou ter que ir trabalhar.” Não! É um trabalho pesado, porém tranquilo, como qualquer outro trabalho, é equilibrado mais pro lado bom.
Aqui você passou por algum tipo de constrangimento, assédio ou sentiu-se excluída de alguma forma?
Herlane: Nenhum tipo de assédio. Nem moral, nem sexual, nem olhares ou brincadeiras de mal gosto. Eu faço as mesmas tarefas, sou cobrada igual, tomo os mesmos esporros (risos). Sempre me tratam com total respeito, os meus colegas e o meu supervisor. Um dia eu estava passando mal, não falei nada pra ninguém. Mas o Tiago (supervisor) só em olhar pra mim, percebeu. Ele só perguntou se eu estava bem, nem quis saber o que era, eu que contei que estava sentindo cólicas, que o remédio ainda não tinha surtido efeito. Ele mandou eu largar tudo o que eu estava fazendo e ir pra sala de descanso por um tempo, até eu me sentir melhor. Aposto que se eu não tivesse remédio, ele daria um jeito de arrumar pra mim. Aqui além de igualdade, há equidade. Isso é muito bom, diferentemente de outros lugares em que trabalhei. Já sofri os dois tipos de assédio, inclusive por abuso de poder. O cara era gerente e fazia o que queria, achava que a gente não era nada e ele tinha o direito de fazer o que quisesse. Na época que trabalhei como jovem aprendiz, minha equipe me escolheu como líder e meu gerente não concordou. Ele achava que por eu ser jovem e mulher, eu não deveria liderar quatro rapazes, mas sim, um deles. Nenhum deles quis pegar a responsabilidade, jogaram pra cima de mim e ele não acatou. Pesado, né?
Você tem alguém que você acredita inspirar?
Herlane: Tenho sim, minha afilhada/ prima. Conversamos sobre todos os assuntos, ela pergunta sobre tudo, sou sempre franca com ela, quero que ela faça as melhores escolhas pra vida. Tenho uma prima de 15 anos também, que tira dúvidas sobre como agir em relacionamentos, como dispensar alguém que ela não goste, por exemplo. A gente conversa bastante sobre essas coisas.
Alguém em quem você se inspira?
Herlane: Tenho uma prima mais velha que eu considero como uma segunda mãe, à todo momento ela diz que se orgulha de mim. Eu venho de uma trajetória bem difícil, onde sempre fui eu por mim, e apesar de tudo que passei, consigo sorrir. Essa minha mãe de coração sempre diz se orgulhar, mesmo com todas as minhas doideiras. E isso faz com que eu queira ser melhor, fazer o meu melhor. Eu passei dois anos desempregada, mas eu nunca parei. Já vendi empadas na rua, encomenda de empadão pra Natal e Ano Novo, vendi trufas, roupas, tudo o que imaginar. Essa minha prima/mãe sempre me incentivou em tudo que peguei pra fazer, sempre esteve ao meu lado, sempre me impulsionou. Quando decidi terminar meu casamento, que pra mulher não pega bem, né? Mesmo que o homem traia e faça o que for, pra sociedade a mulher não pode largar o casamento, ela é obrigada a aceitar. Essa minha mãe Samantha disse que não queria saber os meus motivos, que só queria saber se eu estava bem. Ela não queria saber o porquê, ela não precisou, ela só disse que eu deveria ter os meus motivos e quando eu quisesse e estivesse pronta para falar, ela estaria ali por mim. Uma outra referência absurda que eu tenho é a minha bisavó de 95 anos. Que veio de uma geração com outro pensamento, que aturou marido chegando bêbado em casa, que passava os dias na rua com várias mulheres... Ela se submeteu a isso durante muito tempo. Porque tinha 4 filhos e não teria como sustentar as crianças sem ele. Cuidou dele quando adoeceu e esteve ao seu lado até a morte. Então quando eu contei que tinha terminado com meu esposo, achei que ela fosse falar algo por eu não ter um “motivo real”, ao olhar de outros, dava pra resolver. Mas foram discussões que se tornaram agressivas, com muita falta de respeito. Quando identifiquei o que estava acontecendo, eu pensei: “Não dá, são pequenos excessos que estão fugindo dos limites”. E aí fui percebendo que não era um relacionamento saudável, nem pra mim e nem pra ele. As pessoas acreditam que deve haver somente marcas físicas para poder terminar, o cara precisa ser um louco ou decidir te largar. E quando cheguei e expliquei para a minha bisavó, ela disse: “A partir de hoje eu nunca mais quero ouvir o nome dele nesta casa, estão todos proibidos de citarem ele aqui dentro. Minha única pergunta é: você está bem? Isso pra mim é o que interessa, você estando feliz, eu estou feliz e ponto ”. E depois em outras conversas ela disse que se foi o tempo em que mulher era obrigada a aturar o homem, de ficar sendo desrespeitada e ter que continuar com o cara. Eu fico impressionada por ela ser assim, ter 95 anos e possuir uma mente assim, totalmente à frente do seu tempo. Ela e a minha mãe Samantha são as minhas referências e o meu suporte. Se hoje eu digo eu sou uma mulher com um pouco mais de cabeça, que consigo identificar o que é um assédio, o que é um abuso, se eu sei lidar com as minhas emoções, é graças à essas duas. Eu tento ser a mesma coisa com as minhas primas mais novas, quero ser esse tipo de inspiração pra elas.
Entrevista com Supervisor da Produção: Tiago Brito
Por que decidiram colocar uma mulher na produção? Por que agora?
Supervisor: A gente sempre teve vontade de colocar uma mulher na produção. Só que sempre ficou aquela dúvida se pelo trabalho ser muito pesado, seria possível ter uma mulher nesse ambiente. Como tínhamos poucos funcionários na época em que pensamos nisso, estávamos em Caxias ainda, ficava muito difícil de fazer essa experiência, de abrir oportunidades para mulheres. Só que felizmente fomos crescendo, as atividades acabaram sendo divididas na produção e com isso abriu margem pra gente analisar e pensar que conseguiríamos colocar mulheres pra trabalhar aqui, sim. Porque não é um trabalho que exige somente força física, demanda inteligência, competência; e isso uma mulher é mais do que capaz de fazer. Aí quando surgiu a necessidade de abrir mais vaga para a produção, dessa vez estendemos a vaga para mulheres. O processo seletivo foi aberto para ambos os gêneros. Independentemente de quem viesse, o trabalho seria pesado: lavagem dos reatores, lavagem das salas... É bem trabalhoso, mas entendemos que poderia ser feito por qualquer pessoa. E aí a gente começou a olhar os currículos, abrimos indicação interna. E foi um momento de surpresa! Choveu mulher. Foi interessante pois pensamos que mulheres poderiam não querer por ser um trabalho tão pesado. Se eu não me engano vieram oito mulheres e dois homens para a entrevista. Não gostamos de nenhum dos homens neste dia, porque foram muito fracos. Eles eram realmente ruins para o que precisávamos que fosse feito.
Por que a escolheram? Qual foi o diferencial dela em relação aos outros (as) candidatos?
Supervisor: Na apresentação ela foi bem, na prática ela foi excelente. Pensamos: “Essa garota pode se encaixar em nosso time”. Ela foi prestativa, rápida, atenciosa e proativa. Exatamente o que a gente necessita para equipe de produção. Os dias são corridos e precisamos de pessoas que estejam ligadas. E ela pegou muito rápido o que a gente passou para ela. Passamos para todos os candidatos as mesmas condições e ela foi a que se destacou mais.
Ela fez alguma coisa diferente, algo que alguém deixou de fazer?
Supervisor: Ela foi atenciosa no quesito de achar uma coisa que a gente colocou, um tipo de pegadinha, algo que a gente esconde no local do teste. Ela achou e ainda perguntou o que era pra ser feito com aquilo. O interessante é que em outros testes, que nós fizemos só com homens, no máximo quando um cara encontrava o objeto, ele jogava no lixo. Muitas das vezes nem achava. Ela achou e perguntou: “Isso aqui eu posso lavar ou devo descartar? ”. Ela organizou todo o ambiente, limpou tudo com muita atenção. E era isso que precisávamos, uma pessoa atenciosa, uma pessoa prestativa e ela tirou de letra.
Teve algum ponto negativo?
Supervisor: Ninguém chega aqui sabendo fazer tudo porque é um trabalho muito diferente. Só foram alguns pontos negativos que ela teve. Mas foram mínimos perto dos outros candidatos. São coisas que só podem ser corrigidas e ensinadas no dia a dia, coisas que quem vive fora desse mundo, não chega aqui sabendo. Na limpeza, ela não gasta muito papel, toma cuidado em usar o mínimo de água. Ela arrumou toda a pia, secou toda a pia, preencheu a ficha corretamente. Foi atenta a tudo que eu falei, então isso a destacou muito. Pensamos: “Esta é uma pessoa que dá pra gente investir, treinar”. Eu sempre falo pra equipe “eu não quero que vocês estejam aqui para pegar peso, quero que pensem. Que se desenvolvam na empresa, que estudem e se em algum momento quiserem mudar para outros setores, estejam preparados”. Ela é assim, então ela se encaixa exatamente no perfil de pessoa que eu quero aqui dentro.
Ela vai completar dois meses aqui na empresa, qual é a sua avaliação até agora?
Supervisor: A minha avaliação com ela é de forma contínua. Eu já cheguei para conversar com ela, citando os dois pontos muito importantes, falei: “Você está no ambiente em que você é a primeira mulher. Então você tem que conquistar o seu lugar. É mais difícil... vai ser! Mas se você mostrar pra eles que você está aqui com determinação e garra, eles vão te apoiar. Outro ponto, vai ter momento que você não vai aguentar pegar um peso, é normal, acontece com eles também. Pegar peso não é ter força, é saber fazer. Você demonstrando que está aqui com garra, eles vão te ajudar. Então você vai conquistar o seu espaço dessa forma. Vem com disposição, que você vai conseguir! ”. E ela está tocando. Eu deixei bem claro que a função que ela se encontra é de um mundo diferente, uma atividade que pensam ser masculina e que ela como mulher está ali para brigar pelo espaço dela. E falei “ você tem condição, eu vejo o potencial em você, você vai conseguir! ”. Ela agradeceu pelo toque. Não é uma atividade nada fácil, eu já dispensei muitos homens na função que ela está, porque os caras não deram conta. Ela não está fazendo isso porque ela é mulher, ela está fazendo isso porque ela é competente. Passei a mesma atividade pra ela e outras pessoas, ela foi a que deu conta.
Ela transformou todos nós, desconstruiu a nossa mente, né? Porque a partir dela, entendemos que qualquer uma de nós é capaz de fazer esse serviço. Ela abriu a porta, para que no futuro, nas próximas vagas, muitas outras venham trabalhar conosco exercendo essa função. A empresa não sabia como seria, nenhum de nós sabia. Como você disse, queriam testar pra saber no que iria dar.
Supervisor: Então, abriu pra gente uma porta, sim. Porque em outras empresas, empresas multinacionais, é comum ter mulher na linha de produção. Porque a linha de produção de grandes empresas é outro tipo de processo: você coloca um parafuso, passa para o lado e a próxima pessoa coloca outra coisa... E assim vai. Aqui não. Aqui na produção o processo é pesado. Por não sermos tão grandes, não temos uma linha de produção, não apertamos botões, aqui o trabalho é braçal. A gente precisa de pessoas que tenham inteligência, consciência do que estão fazendo, determinação, atenção, que sigam protocolos e regras. Pra fazer isso, independe do gênero. Mas só poderíamos ter essa confirmação, depois de ter um time formado, pra poder dar estrutura pra essa pessoa nova chegar e se enquadrar. Tivemos um rapaz conosco, que quando chegou aqui para trabalhar não conseguia movimentar o tambor e saiu como um dos melhores funcionários que já tivemos. Sem dúvida. Ele já tinha bagagem de outra empresa, mas era diferente lá. Aqui ele viu que o povo faz de tudo, ele acabou se reinventando. Então eu acredito que depois que ela sair daqui, se for o caso, ela sabe que vai conseguir trabalhar em qualquer lugar que ela quiser. Resumindo: O potencial dela é incrível!
